domingo, 10 de maio de 2009

SUBIREI

SUBIREI


Suponhamos que a adoração verdadeira, boa, agradável a Deus fosse um belo templo, e que para atingi-lo precisássemos subir quatro degraus. Será que realmente desejaríamos entrar? Será que realmente decidiríamos ir? Pois certamente um ou outro degrau subiríamos com maior facilidade. Mas todos eles?

Há anos atrás eu atravessei um duro problema sentimental. Na época o meu namoro não ia bem e os sintomas eram claros: chegara ao final. Meu coração, contudo, não aceitava; eu buscava realizar "todos os meus sonhos". Se as pregações aberrantes dos dias de hoje existissem naquela época, viriam os endeusados falsos profetas a me dizer: "não desista de seus sonhos", "se o mar não se abrir você passará por cima", "Deus fez de você um vencedor e a vitória já está ganha em nome de Jesus". Ah, como eu queria ouvi-los! Já que não existiam tornei-me meu próprio profeta. Profetizei para mim mesmo: "esse problema vai acabar do jeito que eu determinei!"; "é só uma crise, amanhã tudo se ajeitará"; "foi Deus quem nos uniu, nada nos separará"; "Deus não teria permitido se não quisesse, por isso vai dar certo".

Eu vivia o degrau "EU". Sim. Eu. Eu decidia, eu escolhia, eu vencia, eu superava, eu conquistava, eu exigia, eu determinava. Eu não era capaz de enxergar nada de errado nisso. Minha vida estava fundamentada no que eu queria. Eu estava no primeiro degrau. E ali não era o meu lugar. "Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito." (Pv 16:2)

Decidi ir a um culto onde não fosse nem o pregador, nem o dirigente, nem tampouco conhecido da maioria. Pastores têm essa dificuldade: não conseguem com facilidade ir a um culto sem ter que subir à plataforma e "dar uma palavra"; pastores também precisam sentar, ouvir e adorar! Naquela época a Comunidade da Graça reunia-se no CPP (Centro do Professorado Paulista) no bairro da Liberdade, em São Paulo, uma vez por semana. Ali Adhemar Campos, Carlos Alberto Bezerra pregavam, cantavam e tocavam. E ali eu apreciava cantar suas canções tão belas: "Grande é o Senhor", "Hosana", "O Nosso General é Cristo". Eu estava tão profundamente triste, choroso e desesperado, que quis trazer Deus para o meu problema. Eu precisava de Deus, eu carecia de Deus, eu não podia olvidar de Deus! Então fui ao culto, dizendo: "Deus, eu marquei um encontro contigo, pelo amor de Ti não falte e não se atrase, senão eu morrerei!" Eu apostara todas as minhas moedas nesse encontro que marcara com Deus. Para isso cheguei uma hora antes do culto, para ficar quietinho, sentado, chorando, orando, clamando, sem ser incomodado. E como foi importante esse encontro, EU E DEUS!

Eu já não vivia o degrau "EU", porque o meu "EU" não satisfazia ao meu coração cristão. Agora eu compreendia que sem Deus na minha história eu jamais seria feliz, jamais teria vitória. Então subi para o degrau "EU E DEUS": Eu iria fazer desafios, iria me comprometer com votos, iria buscar a orientação na Palavra do Senhor, estava pronto para ouvir. "Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8:36); "Fala, Senhor, porque o teu servo ouve." (1Sm 3:9). "E buscou Davi a Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra." (2Sm 12:16). Eu faria como Jesus, que clamava no Getsêmani: "afasta de mim este cálice!" (Mc 14:36). Eu chorei. Meu Deus, quanto chorei! Agora eu não determinava a Deus o que fazer, mas queria tão-somente que Ele me ouvisse. E como me ouviu! "E será que antes que clamem eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei." (Is 65:24)

Enquanto a chegava a hora do culto, eu lá no meu banco lutava nesse encontro egoísta e cheio de prepotência. Deus, que não está distante daquele que o busca em espirito e em verdade, fez do meu coração uma cera: derreteu-me! Ah, eu imaginei o que Jesus fizera no momento em que o Pai simplesmente lhe segredou: "Não vou afastar o teu cálice". Imaginei o Apóstolo Paulo ouvindo: "de que forma testificarás e me glorificarás, e morrerás". Imaginei Cristo afirmando a Pedro que no final da vida ele não teria liberdade de escolher seu martírio. E todos eles aceitaram a vontade do Senhor pura e simplesmente porque confiaram que as razões do Senhor eram melhores do que as suas razões momentâneas e limitadas. "O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois." (Jo 13:7)

Eu subira outro degrau. Eu não estava no degrau "EU", e já não estava no degrau "EU E DEUS"; eu subitamente fora transposto para o degrau "DEUS E EU": "Não se faça o que eu quero, mas o que Tu queres". "Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu". Eu abrira mão de meus direitos, de minha jactância efêmera de achar que Deus tinha que fazer o que a minha fé desejava. Se o próprio Senhor Jesus chegou à conclusão de que "se não podes passar esse cálice sem que eu o beba, que se faça o teu querer", quem era eu para não abrir mão da namorada que tanto, tanto amava? "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos." (Lc 18:28)

O culto começara. Os louvadores começaram suas canções. Comecei a cantar sem me preocupar com formato ou com o social (se em notas absolutamente afinadas ou se sorrindo para o irmão do meu lado); eu fechei os meus olhos e chorei, e entre o choro e a canção eu me rendia ao Senhor. Eu dizia, enquanto cantava: "Senhor, agora eu entendo, a minha vida te pertence; tu sabes o que é melhor pra mim. Eu não vivo para mim, mas para ti. De que valeria fazer a minha vontade, desprezando a tua? Tu não trocas o bom pelo pior, mas pelo melhor; e se o teu melhor para mim for até ficar solteiro, bendito seja o teu nome, pois serei um solteiro usado pelo Senhor! Aleluia!" "Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais." (Jr 29:11)

Eu subira, enfim, o quarto e último degrau da escalada para a verdadeira adoração: saíra do degrau "EU", passara pelo degrau "EU E DEUS", conscientizara-me de que a ordem estava errada, pois Ele vinha em primeiro lugar, subi para "DEUS E EU", e agora rendia-me totalmente Àquele que era dono e Senhor de minha vida! Agora era "DEUS", só "DEUS! "TU SENTASTE À DIREITA DE DEUS PAI COM MAJESTADE/ COROADO, SENHOR, ÉS FIEL, JUSTO E VERAZ, ÉS MEU AMO E MEU DONO, COM AMOR TE SERVIREI!" Eu cantei com eles como nunca cantei em toda a minha vida. Eu cantei orando, entregando, dedicando. E agora estava leve e feliz. Rendera TUDO a Cristo. Não havia mais nada MEU, agora tudo era verdadeiramente DELE. Até a minha amada namorada.

Eu não me casei com ela. Eu não me casei até hoje. Mais de dezesseis anos se passaram. Planejo casar-me, SE o Senhor assim o permitir. Mas isso não me aflige ou ocupa o centro de minha vida. Hoje tenho absoluta consciência de que "quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." (1Co 10:31)

Irmão querido, irmã querida, em que degrau você está? No primeiro, no EU? Saia daí em nome de Jesus! Egoísmo não é o nosso lugar! Ou então no EU E DEUS, tomando a frente e querendo que Deus abençoe o seu caminho? O caminho tem que ser o dele, não o seu. Talvez esteja no DEUS E EU e esteja apto a ouvir a voz do Senhor? Então eu lhe digo, em nome de Jesus: eis a voz: "ENTREGA O TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE, E ELE TUDO FARÁ" (Salmos 37.5); Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no Senhor. (id., 4:5)

Que Deus nos abençoe.


Amém!

Wagner Antonio de Araújo

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